Os dias se juntaram e formaram 30 anos. E ele continua fazendo a mesma coisa durante esse tempo. Chega às 14h e sai às 22h. Deixa uma certo mistério no ar, mas não esconde que apura, em média, por dia, 25 reais, entre motoristas avarentos e alguns mais providos.
Seu ponto é uma pequena faixa de rua ao lado da Unicap.
Camisa regata, bermuda curtinha e uma barriga avantajada. Relata, orgulhoso, o nome dos dez filhos que teve com sua antiga companheira. Atualmente, vejam só, como o antigo casal não tem para onde ir, dividem o mesmo casebre, mas cada um dorme em um quarto. São dois.
Para um instante, respira fundo, e conta: "Dois meninos meus morreram. Um atropelado, o outro falava demais, mataram ele". De olhos apertados: "Meu pai abandonou minha mãe, eu e meus irmãos. A véia fez tudo sozinha".
Fica numa parada. Vai esperar o ônibus que o leva, todos os dias, para sua casa compartilhada, em Santo Amaro.
"Ah, tenho 80 anos", entre acenos.
É por esses encontros que ainda vale a pena,vale muito....
eu gosto muito mesmo do que escreves... (: