Mundos

"Cada pessoa é um mundo". Grande novidade! Mas novidade mesmo é alguém que esteja disposto a conhecer cada mundo. Anda pelas avenidas movimentadas, abarrotadas de gente, borbulhando de vida.

Andamos pelas ruas. Correndo. Correndo. Correndo. Bate num, bate noutro. Desculpa aqui, cara feia lá. Cada um que vai se empurrando. Cada mundo quer prevalecer sobre o outro.

EI, ATENÇÃO! ALGUÉM QUER CONHECER O MUNDO DO OUTRO? Grande coisa puder ir à Marte e não conseguir pousar no coração do outro! É mais difícil e mais legal pousar num coração, num mundo humano!

Mas (esse "mas" é pau), mas ninguém quer desacelerar e dar "bom-dia" ao mundo que passa ao nosso lado. Olhamos o céu e viajamos nas estrelas, mas (de novo), ninguém admira o mundo do outro!

Quem quer? Quem quer? Quem quer conhecer as galáxias humanas? (Silêncio) Quem quer? (Faz-se um eco. Todos foram embora) Tolo, eu, tolo mundo meu. Meu mundo estava sempre sozinho. Era tudo delírio.

Corre. Corre. Corre.

Essência

A morte que a morte traz é mais do que a morte de um só, entende? Explico: quando morre alguém morrem os que estão com quem morre. Agora, vejamos o que acontece com quem é assassinado.
Quem é assassinado assassina mais alguém. Desculpe-me, errei. Quem assassina alguém é que, de fato, assassina outros. Por isso, aos poucos, somos um mundo de mortos. Se não morremos fisicamente, pelo menos, com certeza, nossa essência está morrendo.
Essência assassinada por quem mata. Essência assassinada por quem deixa matar. Eu e você deixamos matar. Eu e você, também, somos culpados. Enquanto os de longe morrem, vivemos bem, pelo menos, fisicamente. Porque a nossa essência, bem, a nossa essência...